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Estações Culturais do Rio de Janeiro

1. Introdução:

 

            O projeto foi idealizado ao longo do curso de Oficina II que tem como temática, “Projetos Educacionais e Culturais”, a partir de discussões sobre a necessidade de revitalização do Centro Cultural Gama Filho. Partindo deste objetivo, no decorrer das aulas houve debates sobre um tema a ser escolhido que melhor se adequasse aos objetivos da classe e do curso.

            Com foco no subúrbio do Rio do Janeiro, entendeu-se que esta área, devido a carência de promoção da cultura, necessitava de um olhar diferenciado para esta realidade, buscando assim, reativar a cultura local. Escolhemos então, como ponto de partida, as estações ferroviárias – em específico: Piedade, Madureira e Realengo – que melhor traduzem a alma suburbana.

            Determinado o tema, este será desenvolvido através de uma exposição e contará com um curta, que será apresentado no Centro Cultural Gama Filho.

 

2. Justificativa de relevância:

 

            O projeto faz-se necessário porque milhares de cidadãos, diariamente, se utilizam dos serviços ferroviários para o seu deslocamento (casa-trabalho-casa), e no nosso entendimento, os ``trilhos``, além de funcionar como transporte, podem também ser utilizados como um “corredor cultural”, contando a história dos bairros de forma simples e acessível, tanto para a população local quanto para a incrementação do turismo da cidade do Rio de Janeiro.

            Baseamos nosso entendimento em pesquisas realizadas, onde foram constatadas a defasagem do incentivo à cultura e a falta de conhecimento sobre a história local. Através desta, buscamos um fundamento histórico-cultural que corrobore esta afirmativa e mostre a importância de um incentivo cultural, que se faz necessário como forma de preservação da memória e da interação da população com a história do seu bairro.

            Através de nossas pesquisas pudemos coletar toda a história de cada bairro trabalhado e apontar pontos que podem servir como referencial de cultura em cada bairro. Abaixo tem-se uma síntese das pesquisas e uma pequena amostra do que se pode ser explorado nos bairro de Piedade, Madureira e Realengo:

 

·        Bairro Piedade  

 

O bairro da Piedade fica entre o Méier e Madureira, próximo ao Encantado e Água Santa. Com a expansão ferroviária do Império em direção à Zona Norte do Rio, e por ordem de D. Pedro II, foi criada uma estação numa região infestada de gambás. Durante uma de suas viagens o imperador, tendo parado no local, resolveu chamar a estação de Parada Gambá.

A história do bairro da Piedade registra a criação, pelo padre Antônio Martins Loureiro, em 1664, da freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá, que compreendia um extenso território, abrangendo áreas das atuais circunscrições de Jacarepaguá, Campo Grande, Engenho Velho, Inhaúma, Realengo, Madureira, Anchieta, Pavuna, Penha e Piedade.

As terras que hoje formam o bairro da Piedade situavam-se entre as freguesias de N. Sra. da Apresentação de Irajá e S. Tiago de Inhaúma, e consistiam numa sesmaria doada a Apolinário Pereira Cabral, em 1779.

A estação de Piedade foi inaugurada em 1873. Existem duas versões para o nome do bairro. Uma diz que, como esta denominação não agradava aos moradores, foi então uma enviada, no século XIX, uma carta ao diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil pedindo a troca do nome. A carta começava com o seguinte texto: “Por piedade, doutor, troque o nome da nossa estaçãozinha...”. O pedido surtiu efeito e o nome da estação foi mudado para Piedade. A outra versão diz que a mudança do nome foi em homenagem a D. Maria da Piedade, mãe de Elisário Antônio dos Santos, o Barão de Angra, que administrava a estrada de ferro na época de sua inauguração.

 

- A Igreja

No início do século XX, a região do atual bairro de Piedade tinha uma característica essencialmente rural. Havia pequenos sítios e lotes de terra, como também uma vasta propriedade herdada do engenho em atividade no século XIX. No segundo decênio do século XX, o Bairro já passava por uma leve urbanização, estimulada pela movimentação de trabalhadores em direção ao subúrbio, fato reforçado pela presença da estação de trem.

Por esta época, a comunidade em formação já ansiava por uma Igreja que suprisse suas necessidades espirituais, por isso, foi iniciada a construção da Capela Pública de Piedade. Ela situa-se na rua da Capela, nesta ocasião, a Congregação dos Padres Salvatorianos, por seu caráter missionário, procurava uma região para se estabelecer e exercer sua vocação evangelizadora. Por acordo com o Cardeal Arcebispo D. Joaquim Arcoverde Albuquerque Cavalcanti, os Salvatorianos foram para a emergente região do atual bairro de Piedade, adquirindo um terreno baldio na atual Clarimundo de Melo.

A construção da Igreja foi possível com a aliança dos Salvatorianos e da comunidade local. Esta última foi essencial para a arrecadação de fundos e integral envolvimento com as obras. O templo foi inaugurado na data de sua elevação à condição de Igreja Matriz, em 26 de outubro de 1915.

Os Padres Salvatorianos, expandindo sua ação evangelizadora no Bairro, conseguiram a criação de mais uma Igreja Matriz do Divino Salvador, em 7 de abril de 1936. Em meados do século XX, a Congregação dos Padres Salvatorianos concentra as atividades na Matriz do Divino Salvador, entregando a administração da Matriz de N. S. da Piedade à Mitra Diocesana.

Esses padres, também foram importantes pela ajuda dada às Irmãs da Congregação Missionária Servas do Espírito Santo, que em 14 de janeiro de 1914, se estabeleceram na Igreja do Divino Salvador e deram início ao Colégio N. S. da Piedade.

 

- A Universidade Gama Filho

Ocupando uma sala de frente em casa de família na Rua Gomes Serpa, próxima à Rua Cesárea, foi inaugurada, a 12 de março de 1924, uma escola, que recebeu a denominação de Gymnásio Piedade. Foram seus fundadores dois professores pertencentes ao funcionalismo da Escola 15 de Novembro, situada na Rua Clarimundo de Melo, em Quintino Bocaiúva.

O principal fundador que recebeu o título de Diretor chamava-se Manoel Lopes Vilar. Trabalhava na secretaria e, como docente, em caráter particular, dedicava-se ao ensino da datilografia. O segundo, Vice-Diretor, chamava-se Modesto Dias de Abreu e Silva. Tinha na Escola 15 o título de Auxiliar de Ensino e além das matérias do curso primário ensinava várias disciplinas secundárias.

Em pouco tempo, o Gymnásio Piedade tinha um grande número de alunos e por isso tornou-se necessário mudar de sede. Passou então o Gymnásio Piedade a funcionar num sobrado da Rua Elias da Silva, em frente à estrada de ferro. Não ficou aí muito tempo e já nos meados do ano seguinte ocupava outro sobrado, já agora na Rua Manoel Vitorino, o de n.º 309, bem em frente à estação ferroviária.

À essa altura, vários professores haviam sido contratados: Xisto Bahia e os irmãos Constantino Magno e Frederico Guilherme de Castilho Lisboa, que haviam estudo na Escola Militar e foram expulsos por ocasião da revolta, no legendário levante do Forte de Copacabana, em 1922. Este último permaneceu pouco tempo no ensino, formou-se em engenharia e dedicou-se à nova profissão.

A 17 de janeiro de 1939, o Gymnásio Piedade, instalado no prédio à rua Manoel Vitorino 219 e 225, na freguesia de Inhaúma, foi vendido pelo Capitão Hermogenio Rodrigues Peixoto e sua esposa, D. Conceição Ferreira Peixoto, a Luiz Felippe Maigre de Oliveira Ferreira da Gama – Luiz Gama Filho – e Camillo Cuquejo Atanes, de acordo com a escritura, lavrada no Cartório Ibrahim Machado.

A 22 de abril de 1939, nascia o Grêmio Machado de Assis, numa festa pública com discursos, cantos e poesias. Já nesse dia, Luiz Gama Filho confidenciava a outro professor: Não morrerei sem dar a este subúrbio uma universidade”.

 Para atender às necessidades do ensino e prestar mais um serviço de utilidade pública à população circunvizinha, foi criado o Hospital Universitário Gama Filho e Unidade de Pacientes Externos Paulina Gama, unidade integrada à Escola Médica, que prestou relevantes serviços à causa do ensino e à assistência médica.

O Hospital Gama Filho, absorveu os serviços existentes, sendo constituído por duas unidades assistenciais: ambulatório e hospital. O ambulatório, com todas as clínicas auxiliares de diagnóstico e tratamento, entre os quais Raios X, Laboratórios de Análise, Eletroencefalografia, destina-se ao atendimento de pacientes externos, servindo ao mesmo tempo para treinamento dos alunos que freqüentam o Curso Profissional de Formação da Escola Médica.

O hospital teve por finalidade o tratamento de pacientes que necessitam de internação; foi dotado de instalações auxiliares, com um total de 150 leitos, que serviram como finalidade básica à prestação de assistência médica à comunidade, além de destinar-se também ao ensino clínico nas suas diversas especializações. Seria o início do Hospital da Piedade.

Durante toda a década de 40 o Ginásio foi sofrendo modificações através do crescimento físico de sua área. Novos edifícios foram surgindo e, com eles, o auditório, a piscina, a barbearia, os campos de esporte e recreação, o teatro e o cinema, incentivando assim o aparecimento de atividades artísticas, do Coro Orfeônico e de competições de natação, futebol, basquetebol e atletismo.

Através do Decreto presidencial n.º 11.787, de 4 de março de 1943, o Ginásio Piedade ficou autorizado a funcionar como Colégio, passando a denominar-se Colégio Piedade. O Colégio Piedade passou a se chamar Colégio Gama Filho em 2000.

Na década de 50, Luiz da Gama Filho consegue realizar seu sonho e funda a Universidade Gama Filho, a primeira a se estabelecer no subúrbio do Rio de Janeiro, trazendo para este mais urbanização e movimento, pois a estação ferroviária torna o acesso dos alunos mais viável a esta.

 

·        Bairro de Madureira:

           

            Nos seus primórdios a cidade do Rio de Janeiro era dividida em diversas freguesias ou paróquias, as quais limitavam os territórios, em princípio, de jurisdição religiosa. Posteriormente obtiveram também jurisdição administrativa.

            O bairro de Madureira fazia parte da freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, que foi criada pelo padre Antonio Martins Loureiro, em 30 de Dezembro de 1644 e confirmada pelo alvará de 10 de fevereiro de 1647. Seu território compreendia, além do atual, o de Jacarepaguá (desmembrada em 6 de Março de 1661); de Campo Grande (desmembrada em 1673); de Engenho Velho ( em 1795); de Inhaúma ( em 1743); de Realengo ( em 1926); de Anchieta; da Pavuna ; da Penha, e da Piedade ( em 23 de Março de 1932).

            Esta freguesia é servida por quatro estradas de ferro: a Central do Brasil, a de Melhoramentos, a do Rio D’ouro e a do Norte (antiga Leopoldina). À primeira pertencem as estações de Madureira, Sapopemba e Rio das Pedras (atual estação de Oswaldo Cruz, inaugurada em 17 de Abril de 1898); à segunda, as paradas de Eduardo Quirino , Coronel Magalhães ( atual estação de Madureira, inaugurada em 15 de Junho de 1890).

            Madureira é um bairro situado na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, que compõe o chamado subúrbio da cidade. Sua população gira em torno de cinqüenta mil habitantes é formada basicamente de classe média baixa, inclusive com algumas favelas.

O local onde estão Madureira e Oswaldo cruz eram parte da fazenda no Campinho, concedida à Dona Maria de oliveira em 1617 e passaria às mãos do capitão Inácio do Canto, em 1800. Existia no local o antigo forte de Nossa Senhora da Glória do Campinho, erguido em 1822 e desativado em 1831.

            Em 1937, com a eletrificação dos trens suburbanos da central, inaugurada pelo presidente Vargas, Madureira consagrava-se a “capital do subúrbio carioca”, destaque até hoje não só pela população geográfica privilegiada pelo comércio e transporte abundante, como por suas tradições culturais.

            Em 1950, a população de Madureira havia aumentado 41%, sendo bem menor que a parcela de pessoas ligadas à atividade agropecuária o que atesta a crescente urbanização.

            Em 1940 o viaduto Negrão de Lima, sobre a estrada de ferro em 1958 foi decisivo para o crescimento da região, que ainda no tempo do Estado da Guanabara possuía a maior densidade populacional do subúrbio e era a segunda em arrecadação de impostos do Estado. O viaduto foi inaugurado pelo prefeito Negrão de Lima e ligou a atividade dos italianos em Rocha Miranda à estação de samba da Portela ficando no coração do subúrbio possibilitando a integração viária do bairro.

 

- O mercadão de Madureira

            No ano de 1914 foi inaugurado uma pequena feira livre no bairro de Madureira, um ponto de venda de produtos agropecuários, localizado onde é hoje a quadra do Império Serrano ao lado da linha férrea junto à Estação de Magno. Já em 1929, uma obra de ampliação o transformaria no maior centro de distribuição de alimentos do subúrbio. Em 1959, o Mercadão é reinaugurado em grande estilo, por Juscelino Kubistchek no atual endereço da Edgard Romero. Como conseqüência todo o comércio local se desenvolveu, a ponto de Madureira se tornar um dos maiores arrecadadores de impostos do Rio, e o Mercadão de Madureira passou definitivamente a fazer parte da vida das pessoas da nossa cidade.

            Em Janeiro de 2000, um incêndio destruiu todas as instalações do Mercadão. Mas em 5 de outubro de 2001, reabre suas portas pronto para atender às necessidades do novo milênio, aliando à tradição, instalações modernas, conforto e segurança, atraindo cerca de 80.000 pessoas por dia e fazendo do Mercadão de Madureira uma referência na cidade, sendo um pólo de convergência social, onde se misturam todas as camadas da população. É um lugar onde, com certeza, o espírito carioca sobrevive e está presente com suas lutas e alegrias.

 

            - Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano

            A Escola de Samba Império Serrano nasceu em 23 de março de 1947 a partir de uma dissidência da antiga escola de samba Prazer da Serrinha, na divisão entre os bairros de Madureira e Vaz Lobo. A Escola é fruto da fusão das antigas Unidos da Tamarineira, Independentes da Serra (ex-Prazer da Serrinha) e Unidos da Congonha. Entre seus fundadores contam-se os sambistas Mano Elói, Mano Décio e Antonio Fuleiro. A escola de samba Prazer da Serrinha, que juntamente com a Unidos da Congonha e Unidos da Tamarineira, dividia preferências daquele trecho em Madureira e Vaz Lobo, era dirigida por seu Alfredo Costa, sogro de Dona Ivone Lara, o qual segundo consta, era muito autoritário.

            No carnaval de 1946, seu autoritarismo provocou uma grande crise. E que a escola tinha um samba, sobre a conferencia de São Francisco, de autoria de Silas e Mano Décio, mas seu Alfredo em plena Praça Onze mandou a escola cantar o Alto da Colina, de autoria  compositor Albano. A ordem levou o caos a escola, que não sabia se cantava um ou outro samba. E a Prazer da Serrinha tirou em 11º lugar. Os representantes se reuniram e resolveram fundar uma outra escola democrática, com organização igual a dos vizinhos portelenses. Assim foi que, com apoio material, financeiro e político de pessoas como o sambista Mano Elói, o jornalista Irenio Delgado e ate mesmo do jornal tribuna popular do partido comunista que nesse contexto se aproximava das escolas de samba, que a escola estreou vitoriosa no carnaval de 1948.

            Sua Ala de Compositores e uma das mais respeitadas, tendo em sua história nomes como Silas de Oliveira, Mano Décio, Aniceto do Império, Molequinho, Dona Yvone Lara (primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de escola de samba), Beto sem Braço, Aluizio Machado, Arlindo Cruz.

 

            - Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela

            A Portela é uma das mais antigas e tradicionais escolas de samba da Guanabara. Diríamos mesmo que, como estrutura (não na criação do termo escola de samba que é do Estácio), a famosa deixa falar, foi reconhecida como primeira escola de samba.

            Alguns blocos cruzaram a história da Portela antes de sua fundação, em 11 de Abril 1923: Quem Fala de Nós Come Mosca, liderado por Dona Esther Maria de Jesus, influente senhora de Oswaldo Cruz que organizava em sua casa rodas de samba com Pixinguinha, Cartola e Donga; Baianinhas de Oswaldo Cruz, que tinha entre seus componentes Paulo Benjamim de Oliveira, mais conhecido como Paulo da Portela; e Conjunto de Oswaldo Cruz, que surgiu com o fim das Baianinhas e depois mudou de nome para Nos Faz É O Capricho e, finalmente, Vai Como Pode.

            É impossível falar da Portela e não fazer referência a um nome pioneiro não só para a história da Portela, mas também para a consolidação do carnaval no Rio: Paulo da Portela. Exímio compositor, Paulo já militava em prol da legitimação do samba como manifestação cultural do povo - e não mais um caso de polícia, como era encarado antes. Os blocos sob seu comando primavam pela organização: não havia badernas nem tumultos. Com ele, a postura do "vagabundo" característica dos anos 20 não encontrava tanto espaço.

 

Bairro de Realengo:

 

             Realengo era parte integrante da Paróquia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, era assim a chamada “terra realenga” daquela freguesia. Nela descansava o gado que descia para a Corte, e teve nos tempos de Dom João VI áureos dias, quando seu numeroso séqüito buscava os campos de Santa Cruz para o príncipe que, ou descansava em Bangu ou no Realengo. Em 1874 foi desmembrada da Imperial Fazenda de Santa Cruz e a terra do realengo teve vários e novos donos.

             Existem duas versões para o surgimento do nome Realengo: uma diz que quando Dom Pedro I ia para a fazenda de Santa Cruz pela estrada Real de Santa Cruz, que passava pelo Real Engenho, onde, por muitas vezes pernoitava e como engenho era uma palavra muito grande usava-se uma abreviatura “engo” então ficou “Real Engo” nas placas de orientação utilizadas na época, desta forma juntando as duas palavras formando-se então Realengo. Uma outra versão, esta com documentação, que diz que D.João ainda na qualidade de príncipe, concedeu pela Carta Régia de 27 de junho de 1814 a sesmaria ao Senado da Câmara do Rio de Janeiro os terrenos situados em Campo Grande, chamados de realengos porque advindos da conquista territorial pela descoberta do País se encontravam incompletos ao patrimônio real e a concessão dessas terras é onde, hoje fica o bairro de Realengo.

            O povoado de Realengo foi limitado pelo senado da Câmara do Rio de Janeiro, pela provisão de 18 de julho de 1814, tomando posse à coroa destas terras testadas para a estrada de Santa Cruz e com vinte braças no máximo, esta portaria foi promulgada em 20 de novembro de 1815, onde considera-se a oficialização e a criação de Realengo, daí a Semana de Realengo.

 

            - O exército

 A estação de Realengo foi aberta em 1878, mas é no início do século XX que a localidade começa a tomar vulto e seu protagonista foi o Marechal Hermes da Fonseca, que era Ministro da Guerra do governo de Afonso Pena, pois o mesmo resolve transferir os seis batalhões do 1º e 2º Regimentos de Infantaria, para uma Vila Militar nos subúrbios – vila esta que ao ampliar-se acabaria por constituir com Realengo uma coisa só. A partir da década de 1970, inicia-se a ocupação efetiva da região que perde o aspecto mais rural, onde são criados diversos conjuntos habitacionais para a população de baixa renda, dentre eles destaca-se a COHAB, referência ao plano nacional de habitação popular do BNH, mas Realengo está associado à escola de formação de oficiais que se situa neste bairro. A Escola Militar de Realengo teve papel importante à época do Tenentismo.

             O que também fica muito marcante, para a lembrança do bairro é a célebre canção “Aquele Abraço” do cantor e compositor Gilberto Gil, na verdade mais do que uma homenagem ao bairro, essa canção faz menção aos quartéis da região, onde estiveram presos, além dele, outros artistas de vulto nacional como Caetano Veloso. A expressão “Aquele Abraço” foi originalmente usada como bordão de um programa de televisão pelo comediante Lilico, e era desta forma que os soldados saudavam Gilberto Gil.

 

3. Objetivos:

 

            3.1. Objetivos gerais:

            O projeto cultural tem por objetivo geral analisar, através de diversas fontes, a história dos bairros selecionados pelo prisma de suas estações ferroviárias. A partir daí buscamos traçar um panorama cultural, que por muitas vezes é despercebido ou desconhecido pelos usuários deste serviço, levando-os ao conhecimento da riqueza histórica que, numa simples viagem diária não é notada. Desta forma criar-se-ia uma participação interativa entre os usuários e as estações-bairros, provocando assim, a criação de uma nova identidade do freqüentador-morador com o local.

 

            3.2. Objetivos específicos:

            Através de pesquisas fizemos um levantamento de toda a história de cada bairro trabalhado e percebemos a relevância da estrada de ferro na formação destes e o quanto esta transformou a paisagem do subúrbio – onde os bairros estão inseridos.

            A estrada de ferro promoveu a ligação entre os bairros da cidade acarretando assim em uma maior circulação de pessoas, tendo como conseqüência o crescimento populacional e subseqüentemente o comercial.

            Partindo daí, apontar-se-ia os trilhos do trem como ponto de partida para a formação de um pólo cultural, tendo como objetos o trem e o bairro atingido por este, visto que ambos têm um trajeto histórico rico e causador de mudanças sociais e estruturais na cidade do Rio de Janeiro.

            Ao levantar e traçar toda a história do bairro, tem-se como primeiro objetivo causar uma interação entre o morador (ou usuário dos serviços ferroviários) e o seu bairro, formando assim uma identidade do primeiro em relação ao segundo.

 

            3.3. Proposta:

            Levantamento da história de cada bairro pelo prisma da linha do trem, buscando pontos que traduzam uma especificidade do bairro com um viés histórico-cultural;

            Escrever a história do trem visando em primeiro plano às estações dos seguintes bairros Piedade, Madureira e Realengo captando suas influências no cotidiano dos moradores e na sociedade como um todo – e em especial na vida da população daqueles bairros;

            Usá-lo (o trem) como “corredor cultural” a mostrar a história e cultura de cada bairro, atraindo moradores e freqüentadores do trem para os bairros, valorizando estes e exaltando sua cultura;

            Usando o trem como promoção dos bairros, fazer-se-ia uma ligação destes com os moradores locais, criando assim, uma nova identidade entre moradores e bairros (conclui-se que este fato causaria no morador maior identificação com o seu bairro e conseqüentemente um sentimento de preservação da sua história, paisagem e costumes);

            Promover cultura dentro do trem, associando-o aos bairros pelos quais percorre e aos seus usuários (interação trem-bairro-morador);

            Promover-se-ia tal cultura dentro do trem através de banners mostrando especificidades de cada bairro; contando um pouco de sua história; fatos importantes ou interessantes; através de parcerias com instituições culturais para atrair os usuários do trem para tais instituições (promoção das instituições) como forma de lazer e conhecimento sobre o local;

            Como instituições culturais para atrair a população que se utiliza dos serviços do trem, usaremos:

            -No bairro de Piedade; Igreja de Nossa Senhora da Piedade; Colégio Nossa Senhora de Piedade; Universidade Gama Filho (em especial o Centro Cultural Gama Filho e o Museu Gama Filho).

            - Em Madureira: Grêmio Recreativo Escola de samba Império Serrano; Grêmio Recreativo Escola de samba Portela; Mercadão de Madureira.

            - No bairro Realengo: Museu do Exército.

 

4. Referências teóricos-metodológicas:

 

            O projeto cultural tem como referências teórico-metodológicas, a leitura de vários textos de diversos autores, que entendem a cultura de diferentes formas e representações; e o entendimento que mais se aproximou de forma genérica, para a nossa fundamentação, foi a definição que Roger Chartier deu para a História Cultural que segundo palavras do mesmo é: “ a história cultural, tal como entendemos, tem como principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada....” ou seja, “ as representações do mundo social assim construídas, embora aspirem universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam”... (Chartier).

            Baseados nessa fundamentação, partimos para uma análise do que estava inserido e o que poderia ser entendido ou ser chamado de espírito suburbano, se é que se possa afirmar que exista um, e dada a vasta possibilidade de pesquisa que se possa fazer, para entendermos esse grupo social, escolhemos as Estações Ferroviárias, pois na nossa pesquisa, os “trilhos” tem uma participação fundamental na formação que demarca esse grupo social. Outra referência que nos chamou atenção é extraída do Livro Domínios da História, capítulo V, onde diz Vainfas: “a característica do que hoje se chama de história cultural reside, justamente, na sua rejeição ao conceito de mentalidades, considerado excessivamente vago, ambíguo e impreciso quanto às relações entre o mental e o todo social. Os “historiadores da cultura” que, diga-se de passagem, parecem sentir-se mais à vontade em assumir este rótulo no lugar das mentalidades, não chegam propriamente a negar a relevância dos estudos sobre o mental. Não recusam pelo contrário, a aproximação com a antropologia, nem a longa duração. E longe estão de rejeitar os temas das mentalidades e a valorização do cotidiano, para não falar da micro-história, por muitos considerada legítima, desde que feitas as conexões entre microrrecortes e sociedade global”.

            Após então à análise dos textos, partimos para o trabalho de pesquisa propriamente dito, visitando: arquivos, bibliotecas, museus, igrejas, quartéis e as estações ferroviárias, para que pudéssemos concluir o projeto, projeto este que é inovador na área abordada.

           

4.1. Fontes Audiovisuais:

 

4.1.1. Fotografia:

            A fotografia tem hoje um lugar na composição do conhecimento histórico, e indiscutível sua importância como marca cultural de uma época, há de se compreender as relações entre signo e imagem. A fotografia se apresenta como uma mensagem que se elabora através do tempo, parafraseando Le Goff, tanto como imagem/monumento quanta como imagem/documento, tanto como testemunho direto quanta como testemunho indireto do passado. Tudo documento e monumento, se a fotografia informa, ela também conforma uma determinada visão do mundo. No entanto, entre o sujeito que olha e a imagem que elabora "existe muito mais do que os olhos podem ver".

            A idéia de que o que está impresso na fotografia é a realidade pura, já foi criticada por diferentes campos do conhecimento. A fotografia é baseada em convenções socialmente aceitas como válidas, e um importante instrumento de análise e interpretação do real, os sistemas de signos verbais ou não-verbais, são fundamentos dos programas sociais de comportamento, entre o objeto e a sua representação fotográfica interpõe-se uma série de ações, tanto cultural quanta historicamente.

            Desde a sua descoberta, a fotografia vem acompanhando o mundo contemporâneo registrando sua história numa linguagem de imagens. Cabe ao historiador chegar ao que não foi imediatamente revelado pelo olhar fotográfico e ver através da imagem. A necessidade em problematizar temas pouco trabalhados pela historiografia tradicional e a busca de uma historia total aproximando-se das demais ciências sociais, fez com que os historiadores proclamassem sua independência dos textos escritos e ampliassem suas fontes.

            No que diz respeito aos problemas relativos a análise do conteúdo fotográfico, devemos considerar uma metodologia histórico-semiótica e o circuito social da fotografia. Para solucionar este problema há que se assumir uma proposta transdiciplinar.

            A associação da História a Antropologia ou a Sociologia indaga sobre as maneiras de ser e agir no passado, e a Semiologia oferece mecanismos para o desenvolvimento da análise. A fotografia, como toda Fonte histórica, deve passar por críticas externas e internas, para depois ser organizada em séries fotográficas, obedecendo a uma certa cronologia. Produtores e consumidores da imagem fotografia possuem um "locus" social definidos. E a competência de quem olha que oferece significados a imagem, essa compreensão se da a partir de regras culturais, que oferecem a garantia de que a leitura da imagem não se limite a um sujeito individual, mais que acima de tudo seja coletiva.

            Na qualidade de texto, que pressupõe competências para sua produção e leitura, a fotografia deve ser concebida como uma mensagem que se organiza a partir de dois segmentos: expressão e conteúdo. Historicamente, a fotografia compõe, juntamente com outros tipos de textos de caráter verbal e não-verbal, a textualidade de uma determinada época.

            A fotografia deve compor uma série extensa e homogênea no sentido da dar conta das semelhanças e diferenças próprias ao conjunto de imagens que se escolheu analisar. As imagens sac históricas, das variáveis técnicas e estéticas do contexto histórico que as produziram e das diferentes visões de mundo que concorrem no jogo das relações sociais. O historiador entra em contato com este presente/passado e o investe de sentido. A imagem não fala por si só; é necessário que as perguntas sejam feitas. Discute-se a possibilidade de mentir da imagem fotográfica. Não importa se a imagem mente; o importante e saber porque mentiu e como mentiu.

            Toda a imagem é Histórica. O estudo das imagens, como bem ensinou Panofsky no seu método iconológico, impõe o estudo da historicidade desta imagem.

 

            4.1.2. Cinema:

O filme histórico é uma construção, não ilustra e nem reproduz a realidade, ela a reconstrói a partir de uma linguagem própria referente ao contexto que é produzido. Porém, Pierre Sorlin, historiador francês, afirma em meados da década de 1970 que na maior parte dos trabalhos de história a iconografia ainda era usada como mera ilustração, um anexo da bibliografia e critica essa postura frente à utilização das imagens. É só na década de 1970 com o movimento da “Nova História”, a partir da identificação de novos objetos e novos métodos, que o filme ganha força como documento na pesquisa histórica.

Eduardo Morettin também faz uma crítica ao cinema quando utilizado para iluminar a bibliografia do assunto histórico tratado, sugerindo que os questionamentos têm de surgir a partir do filme. Nossa intenção não é criar um debate e fazer uma crítica acerca dessa idéia já defendida por grandes historiadores que abordam essa temática, mas sim deixar claro que autilização do cinema nos é um meio propicio para a efetivação do projeto cultural que intentamos fazer, com objetivo de facilitar a visualização da história por parte do público.

A produção cinematográfica é uma produção artística, mas também “(...) é um fenômeno social e histórico (...) e por isso sua criação não deve ser dissociada da produção.”Sendo assim, a produção cinematográfica traz consigo a marca de seu tempo, e geralmente reproduz a ideologia de grupos dominantes de determinada sociedade. Segundo Marc Ferro, na obra Cinema e história, “Desde que o cinema se tornou uma arte, seus pioneiros passaram a intervir na história com filmes (...) que sobre aparência de representação, doutrinam e glorificam.” Ao levar em consideração essa ponderação de Marc Ferrro no tocante à produção do filme, é preciso refletir sobre o filme a partir de conjunturas históricas, já que nenhuma produção, que seja produção do homem, escapa de influências, ou seja, de padrões de valores morais e comportamentais inerentes à sua criação. Se por um lado a produção cinematográfica é dotada dessa consciência de auto-valorização por parte de grupos dominantes, de outro lado “o cinema pode tornar-se ainda mais ativo como agente de uma tomada de consciência social (...) esse poderia ser o sentido de uma passagem dos filmes de militantes para os filmes militantes.” Dessa forma, o cinema passa, citando Marc Ferro, a ser expressão de um “contra poder”, espelho de projetos ideológicos de grupos que professam uma contra-idéia à posição dominante, autônomo em relação aos diversos poderes da sociedade, e que exprime uma ideologia nova.

Para se interrogar entre cinema e história, dois eixos são importantes: a leitura histórica do filme e a leitura cinematográfica da história. Passa a se buscar entender tanto o cinema como forma de leitura do passado e as questões teóricas implicadas na utilização do cinema como fonte histórica. Nesse aspecto Jean Ferrés afirma:

 

Uma educação audiovisual coerente e integral deve abranger duas dimensões: a pedagogia da imagem e a pedagogia com a imagem, ou seja, o audiovisual como objeto ou matéria de estudo e o audiovisual como recurso de ensino. A pedagogia da imagem (integrar na escola o audiovisual como matéria ou objetivo de estudo) representa educar os alunos para aproximação crítica aos meios audiovisuais: a televisão, o cinema, a publicidade (...)

 

              Com a produção de um curta metragem efetivaremos o projeto de intervenção apresentado à disciplina de Oficina II, que contará a história dos bairros a partir de pontos culturais importantes à sua transformação histórica.

 

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5. Bibliografia:

 

UM BAIRRO, Chamado Piedade. Museu Gama Filho. Rio de Janeiro. Editora Gama Filho, 1991.

GERSOM, Brasil. Histórias da Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2000. 5ª edição.

SANTOS, Noronha. As Freguesias do Rio Antigo. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1965.

MARCH Bloch,Introdução a História, 5ª edição,Lisboa, Coleção Saber, Pub.Europa América.

            LOPES, Nei. Guimbaustrilho e outros misterios suburbanos. Rio de Janeiro: Dantes Editora, 2001.

JACQUES Le Goff, "Documento/monumento", In: Memória-história, Enciclopédia Einaudi, vol. 1. Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985.

PHILIPE Dubois, O ato fotográfico, Lisboa, Veja, 1992, p.23.

ERWIN Panofsky, O significado nas artes visuais, 3ª edição, São Paulo, Perspectiva, 1991.

MAUAD Ana Maria, "Através da imagem: Fotografia e História interfaces". In: Revista Tempo, Rio de Janeiro, vol. I, 1996, p. 73-98.

BORGES Maria Eliza L., História & Fotografia, Belo Horizonte: Autentica 2003.       BARTHES Roland, A Câmara clara, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

FLAMARION, Ciro Cardoso e VAINFAS, Ronaldo, Domínios da História, Ensaios de Teoria e Metodologia, 19ª edição, Editora Campus 1997.

SANTOS, José Luiz, O que é Cultura. 16ª edição, Editora Brasiliense, 1996.

CHARTIER, Roger . A História Cultural.

 

Periódicos

Folha da Zona Norte. Rio de Janeiro, 28 de março de 1998.

Panorama Nossa Senhora da Piedade. Rio de Janeiro. Ano 9ª edição especial, maio de 2004.

Instituição

Igreja Matriz da Paróquia de  N. S. da Piedade. Histórico.

 

 

 

 

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